domingo, 21 de novembro de 2010

Lugares estranhos e quietos


Wim Wenders gosta de viajar. A possibilidade de conhecer novos lugares e os simples ato de ler nomes de vilarejos, de cidades ou de acidentes geográficos no mapa já o deixa muito animado. Ele gosta de lugares, enfim – é o que deixa claro no texto de abertura da exposição de fotografias Lugares, estranhos e quietos, em exibição no Masp.

Mas, em seu método próprio de explorar o mundo, ele não segue a lógica da maioria. Enquanto, em uma esquina qualquer, as pessoas comuns escolhem virar à direita porque lá vão encontrar coisas interessantes, Wim Wenders vira à esquerda justamente porque lá não tem nada.

É assim que ele fotografa lugares esquecidos e desolados, ignorados por quase todos. Ele nos apresenta um playground na areia, onde um coqueiro de concreto se ergue ao lado de um brinquedo de balanço em um dia nublado. Uma parede com uma pia. Uma roda gigante enferrujada que entrou em desuso. Turbinas industriais – quem sabe para que servem – no alto de um prédio.

Como eu fiquei feliz de ver essas imagens, apesar da melancolia que elas inspiram. Feliz de saber que alguém olha o mundo de um jeito menos óbvio. Sem lindas paisagens e pontos turísticos. Sem grandes sacadas e tentativas de capturar o instante decisivo à la Cartier-Bresson.

Vamos encarar os fatos: ninguém vai chegar lá, por mais que se tente e se fique por horas fotografando menininhos brincando de peão em um chão de terra, ou seja lá qual for a “cena da vida” escolhida pelo fotógrafo. Nestes dias de imagens banalizadas, eu conclamo: peguem suas câmeras semi-profissionais e apontem para algum lugar que valha a pena. É de lugares estranhos e quietos que o mundo é feito.

domingo, 10 de maio de 2009

Histórias fantásticas




Se tivesse que descrever Adolfo Bioy Casares em uma frase, diria que ele é o autor de frases que gostaríamos de ter dito antes.

Foi em pouco tempo que comecei e terminei de ler o livro Histórias Fantásticas, de Adolfo Bioy Casares, escritor argentino contemporâneo de Jorge Luis Borges. Como o título bem sugere, seu autor se insere no contexto do realismo fantástico, movimento literário latino-americano que se desenvolveu ao longo do século XX. Gabriel Garcia Márquez, talvez o principal expoente desse movimento, é um dos meus escritores preferidos.

Na literatura, tudo aquilo que é fantástico, misterioso, digno de espanto e curiosidade exerce sobre mim uma atração irresistível. Quando a Cia das Letras publicou os Contos fantásticos do século XIX escolhidos por Ítalo Calvino, logo quis comprar o livro, que acabei ganhando em seguida. Ele reúne autores como Walter Scott, Balzac, Gogol, Edgar Allan Poe, Charles Dickens e Turguêniev.

Enquanto o fantástico retratado nas obras do século XIX é povoado de demônios, feras, fadas, gênios, mortos que voltam à vida e seres de outro mundo, o fantástico do século XX enfatiza as nuances mágicas e surreais de nosso próprio cotidiano.

As histórias de Casares refletem o fato de que a vida – mesmo a “vida real” – às vezes não faz o menor sentido. Sendo assim, para que se preocupar com as regras limitadoras da lógica e da verossimilhança? E é em meio a essa atmosfera impossível que Casares consegue revelar as verdades mais cruas sobre a natureza humana.

Um recurso que aparece em alguns contos é o narrador contar uma história que ele ouviu de outro personagem ou mesmo reproduzir o que esse segundo personagem escreveu. Talvez seja uma maneira de haver um comprometimento ainda menor com a realidade.

Folheando o livro, que terminei de ler já faz alguns meses, percebo que as histórias gravaram imagens tão nítidas em minha memória que é como se eu tivesse sonhado com cada uma delas: um avião que transporta o piloto de testes para uma realidade paralela onde não teriam existido os galeses; um fazendeiro que consegue fazer o tempo estacionar para evitar a morte da filha; um poeta que se apaixona por uma jovem cujo marido tem a peculiar estatutura de meio palmo; o começo do fim do mundo anunciado pelo apodrecimento do mar...

terça-feira, 10 de março de 2009

Em NYC


Há mais ou menos um ano, eu estava em Nova York. Uma amiga tinha me dito que não sabia o que eu via de tão especial na cidade. De acordo com ela, a principal coisa a se fazer na cidade eram compras. Ela nunca esteve em NY. Estive me lembrando dessa viagem recentemente, quando precisei dar algumas dicas de turismo. Muito do que sei, devo ao Lonely Planet, mas aprendi algumas coisinhas por conta própria. Aí vão algumas dessas dicas:

NYC Must-Do's


- MoMA: Nem preciso dizer que, estando em NY, você tem que ir lá. Quando eu fui, tinha uma exposição maluca sobre tecnologia aplicada à arte. Nunca vi nada igual. O prédio também é muito interessante e passou recentemente por uma reforma. Fica a poucas quadras da Quinta Avenida. Por fora, não é tão imponente quanto o Metropolitan, então demorei um pouco até encontrá-lo!

- Metropolitan: Quer uma dica? Não seja prepotente o suficiente para achar que pode ver tudo o que tem lá dentro. Tinham me falado que era muito grande, mas quando vi no mapa que o museu só tinha um andar, achei que pudesse percorrê-lo inteiro. Ledo engado! No final do dia, estava tão cansada, que não consegui fazer mais nada além de comprar um pretzel e sentar num banco do Central Park por irresponsáveis 40 minutos (naquela temperatura!). O legal desse museu é que as obras estão expostas de maneira cronológica – primeiro a arte egípcia, depois a grega, romana, civilizações pré-colombianas, tribos africanas, etc etc etc. Priorize as exposições novas em detrimento do acervo permanente, que é gigante. Quando eu fui lá, vi a exposição do Courbet.
Ah,tem uma outra coisa sobre o Metropolitan. Por lei, o valor do ingresso lá não pode ser obrigatório. Ou seja, você pode entrar sem pagar nada. Mas eles colocam um valor sugerido. Quando eu fui, fiquei constrangida de dar menos dinheiro, ou não dar nada, então paguei aquele valor, mas fiquei me sentindo meio idiota depois.

- Museu de História Natural: Para falar a verdade, não foi dos melhores passeios. Talvez eu estivesse um pouco cansada demais quando fui lá, mas não vi tanta coisa que me impressionou. Mas acho que tem que ir, nem que seja pra dar uma passadinha. Fica mais ou menos perto do Met. Você só tem que atravessar o Central Park (na largura e não no comprimento!).

- Guggenheim: Vale ir, nem que seja só pelo prédio. É um museu em espiral. É uma bela caminhada pra chegar até lá se você partir do extremo sul do Central Park, mas dá para ver uma região residencial bem chique de Nova York no caminho. Lembro que tive que perguntar para várias pessoas onde ficava esse museu. Não sei se ele não consta no guia ou se eu simplesmente não consegui encontrar essa informação. Ah, a fachada do museu está em reforma desde quando eu fui. =(

- Visita guiada à ONU: Os guias são pessoas que realmente têm um cargo na ONU, portanto são muito bem esclarecidos e falam com conhecimento de causa sobre os projetos e o modo como se organizam as Nações Unidas. Lá você vai conhecer as salas famosas onde acontecem as reuniões da ONU. O prédio é bem bonito e lá dentro você vai também encontra obras de arte interessantes, “presentes” recebidos de vários lugares do mundo.

- Landmark Sunshine Cinema: é um cinema de filmes alternativos no coração do lower east side de Manhattan. Fui lá duas vezes, era bem perto do meu albergue. Lá você vai encontrar nova-iorquinos de verdade, dá para fugir dos turistas durante umas duas horas. Li uma
crítica dizendo que ultimamente ele tem feito mais concessões a filmes comerciais, mas não perdeu a característica original.
Aqui está o endereço no google maps. (Esse site da crítica parece ser interessante. O slogan é “live like an insider”)

Se você for a esse cinema, deixe para comer no Katz's Delicatessen, que fica na mesma rua. A francesa do meu albergue tinha me recomendado, mas eu não fui com medo de ser meio caro. Parece que é um restaurante histórico, está lá desde 1888. Tem um
site mto legal.
(se vc tem anti pop-up, desbloqueie).
- Atravessar a Brooklin Bridge a pé: demora mais ou menos meia hora, mas vale pela paisagem, pela ponte em si e pelas pessoas que você vai encontrar no caminho. É um jeito legal de se chegar no Brooklin, em vez de ir por baixo da terra. Quando você atravessar de volta para Manhattan, ande pelos portos. A paisagem é incrível.

- Subir num lugar bem alto: Top of the Rock, no Rockefeller Center, ou Empire State Building. Como adquiri certa antipatia pelo Empire State (a fila é de duas horas, vc tem que praticamente se despir para poder entrar e os seguranças foram extremamente mal educados comigo), sou partidária do Top of the Rock. Se vc for no Empire State, eles têm um mapa que mostra lugares famosos que dá para ver lá do alto (não sei se eles dão o mapa ou vc tem que comprar). Parece ser legal, se vc for durante o dia, é claro. Se der, vá no fim da tarde para poder apreciar a vista à noite também, que é linda!

Não fiz e me arrependo

- Ver um musical da Broadway. O guia fala sobre um lugar onde se pode comprar ingressos pela metade do preço. Esse lugar realmente existe! Fica embaixo da marquise de um hotel Marriot, na Broadway. Fiquei um tempão rodando até encontrar. Ele tem um horário certo de abrir, tem que verificar isso.

- Conhecer outros bairros de NY, além de Manhattan e Brooklin.

- Assistir a uma apresentação de música gospel no Harlem.

- Comer em bons restaurantes.

- Ir num museu hype chamado New Museum. Também ficava pertinho do meu albergue. Na rua do antigo CBGB's.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Atrás do trio elétrico


Nunca fui muito fã do carnaval. Gosto do feriado, claro, mas dispensaria a festa. O motivo dessa rejeição é que, no Brasil, as pessoas sofrem uma pressão enorme para se divertir horrores nessa época do ano. Toda a expectativa só traz ansiedade e frustração. Se você vai ficar em casa, é um perdedor sem amigos. Se você vai a uma festa e não sabe sambar, também está na draga.

Quando a tradição do carnaval passou a pesar tanto sobre os brasileiros? Tenho a impressão de que antes o carnaval era um evento mais descompromissado, uma ocasião em que as pessoas não tinham medo de se vestir de maneira ridícula e cantar musiquinhas alegres e despretensiosas. Não existe um jeito certo de se dançar uma marchinha. Mas tem, sim, jeito certo de se dançar axé, por exemplo.

Este ano foi o primeiro em que passei o carnaval, ou parte dele, em São Paulo. Sem grandes planos, estava em casa na sexta-feira quando ouvi o som de marchinhas vindo da rua. Sim, era um carnaval de rua em plena Augusta. As faixas que vão no sentido centro estavam interditadas para deixar passar um trio elétrico, uma bateria, uma comissão de frente de mulatas e um bando de pessoas dos mais diversos tipos.

Jovens, velhos, crianças, famílias inteiras, engravatados e até pré-adolescentes emos conviviam nessa massa heterogênea que seguia atrás do trio elétrico. Já dizia Caetano, “só não vai quem já morreu”. O engraçado era que o ritmo da batera não tinha nada a ver com o ritmo das marchinhas do carro de som.

Os moradores mais antigos saíram nas janelas e foram para a beira da calçada ver o que estava acontecendo. As casas de show típicas da região também entraram no clima: tinha até um rei momo na frente de uma delas. A noite foi divertida, afinal

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Rumo à cidade das pedras


São Thomé das Letras é uma cidadezinha de 6.880 habitantes que fica no sul de Minas. Lá as ruas são de pedra e as casas também. Há rumores de que uma gruta a 5 km do município leva os turistas mais obstinados até Machu Picchu. Não é incomum ouvir relatos de moradores que já viram óvnis e até já entraram em contato com os seres extra-terrestres (seria a proximidade de Varginha mera coincidência?).

Esses causos fazem com que a cidade faça parte de uma espécie de roteiro místico. São Thomé também tem a fama de receber grupos de jovens cuja intenção única é se drogar no meio das pedras e ver discos voadores que não estão lá necessariamente.

Mas o que a cidade tem de melhor é a natureza. Cachoeiras e grutas e mais cachoeiras e montanhas... Apesar de ter se tornado um destino relativamente comum para turistas, São Thomé ainda não comercializou suas belezas naturais, ou pelo menos não o fez com profissionalismo suficiente para tirar toda a espontaneidade do lugar. É claro que perto de cada cachoeira tem uma barraquinha que serve bebidas e quitutes mineiros aos visitantes. Mas elas acabam se integrando à paisagem local, cercadas por cachorros pidões que se espalham pela cidade inteira e imploram por um pedaço do seu pastel de queijo branco.

(Se São Thomé ficasse na Flórida, a cidade inteira seria transformada num parque. Aplicariam as normas de acessibilidade a todos os pontos turísticos e ninguém correria mais risco de escorregar no barranco ao tentar chegar numa cachoeira. As grutas receberiam iluminação artificial e seriam alargadas nos trechos mais difíceis.)

O centro da cidade também é charmoso. Cheio de lojinhas que vendem o artesanato local e restaurantes que prometem comida típica mineira. Não existem regras de trânsito bem estabelecidas e você pode estacionar em qualquer lugar (mesmo!). As pedras não permitem que ninguém ande a mais de 40 km/h, então os riscos de acidentes são baixos.

Minha viagem para a Cidade das Estrelas, ou Cidade Mística, ou ainda, Cidade das Pedras só durou um fim de semana. Fiquei hospedada numa pousada cujas únicas hóspedes éramos eu e minhas duas amigas. Fomos recebidas às 23h de sexta-feira por um gatinho branco com um olho de cada cor e um senhor sonolento, que nos apresentou os aposentos e explicou que o portão não tinha nenhuma tranca. Poderíamos chegar a hora que quiséssemos. Ele nos deu duas chaves: uma da porta da frente da pousada e outra do nosso quarto.

O sacrifício das mais de cinco horas de estrada valeria a pena, ainda que fosse só pelo café da manhã delicioso que o casal da pousada nos serviu. Ao lado da mesa do café, em cima de uma almofada azul, reinava absoluta a gata cinzenta chamada Paulina - o nome é o mesmo da personagem do primeiro conto de um livro do Bioy Casares que acabei de começar a ler. Seu namorado, o gatinho-David-Bowie, também nos visitou mais algumas vezes ao longo do fim de semana.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Sinopse de 2008


Comecei o ano de 2008 na Flórida, do lado de fora de um show do B52’s. Em janeiro e fevereiro, tive a nobre experiência de participar da linha de montagem do Big Mac. Em março, vaguei sozinha pelas ruas de Manhattan. Em abril, passei por um ritual conhecido como formatura antes, porém, de conseguir de fato o diploma por motivos que são muito complexos para uma sinopse. Em maio, procurei um estágio e fiz um projeto de trabalho de conclusão de curso. Em junho, consegui um estágio.

Os seis meses seguintes foram uma mistura um pouco desorganizada de trabalho, estudo, noites mal dormidas, aulas de francês, tarefas adiadas, aulas de body combat, correria, ansiedade, aulas de pilates e alguns momentos divertidos também. Tudo culminou com a apresentação do meu trabalho de conclusão de curso no dia nove de dezembro, quando finalmente me formei de verdade.

Que comece 2009.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Lista de possíveis temas para posts do mês passado


Setembro passou voando, já estamos na metade de outubro e eu abandonei um pouco este blog. Entre fazer estágio e pesquisar para meu trabalho de conclusão de curso, sobrou pouco tempo e energia para outras coisas. Mas não deixei de ter várias idéias de assuntos sobre os quais eu poderia escrever. Para não desperdiçá-las, vou publicar uma lista dos possíveis temas para post do mês passado:

- Pessoas famosas que achei ter visto ao longo da minha vida: motivado por eu ter achado que vi o Maurício de Souza no Espaço Unibanco. Tenho vários exemplos. Já achei que vi o Paulo Autran também no Espaço Unibanco, o Maluf saindo da catraca do metrô Consolação, o Fábio Assunção sentado na escada de uma concessionária nos Jardins.

- O estranho efeito de uma tarde de chuva seguida por uma noite fresca de céu estrelado na população de São Paulo: o que aconteceu foi que as pessoas ficaram eufóricas e saíram de casa falando sozinhas, cantando músicas esquisitas e andando de bicicleta de um jeito perigoso na Paulista.

- Meu dia com a Polícia Federal: vocês não imaginam o quanto eles foram gentis e cativantes enquanto colhiam documentos suspeitos do lugar onde faço estágio (e não estou sendo irônica).

- A última sessão com minha psicóloga: talvez eu sinta falta do casal de velhinhos que eu sempre via pela janela no caminho para o consultório. Eles sempre liam o jornal àquela hora da manhã, um em cada sofá, um de frente para o outro. Não sei se vou vê-los novamente. Talvez quando eu for buscar meu dicionário russo-português que ficou com a psico (é uma longa história).).


Espero conseguir voltar a postar regularmente aqui, mesmo estando na reta final para entrega do trabalho de conclusão na faculdade. Isso me apavora um pouco, mas tento agir naturalmente.


Sonhos: Dave McKean fez uma capa de Sendman especialmente para o meu sonho de ontem à noite. Ela mostrava duas ilustrações diferentes se você olhasse a revista na vertical e na horizontal.